Que venham seus olhos, suas mentes, suas vozes e através de suas interpretações modifiquem minhas intenções iniciais.

domingo, 7 de novembro de 2010

Inevitável

O dia-a-dia,
hora após hora,
o limite cronológico
não dão espaço para minha preguiça.
O corpo obediente luta pela subsistência
Vida sem conforto,
Pois com o cansaço ao fim da noite
A consciência desaba no sono pouco exigente
Essa batalha não consome minha saúde.............ainda
Quando esse tempo chegar
Gostaria de ter ajuda para amenizar o desgaste inevitável
Os afazeres cotidianos giram por meu corpo como mosquitinhos irritantes
A fisiologia prejudicada por regras diárias impositivas..............................
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Mas por alguns instantes a vida traz reações positivas nessa turbulência
Uma euforia tímida afasta essas queixas supra-citadas:
O olhar de um bebezinho sorrindo a um desconhecido,
Uma plantinha brotando nas rachaduras do asfalto,
Um garoto tatuado com alargadores de orelha ajudando um cego na travessia do cruzamento ...........................................................................................................
Mas a finita e frágil euforia e quebrada pela moça do carro de traz que freneticamente
buzina e gesticula apontando o semáforo que está em verde
Estou de volta ao estado de corpo e espírito que reina na maioria do tempo
Mas sei que em breve a inevitável e necessária euforia me tocará por dentro.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Manél

Manél, era como se chamava o sujeito aqui em questão. Seu pai, homem simples, tinha dificuldade em pronunciar o nome que a mãe exigiu, ou seja, Manoel e o escrivão sacana registrou o menino da maneira que ouviu o pobre senhor falar.
Manél, rotineiramente desce do ônibus, vai à padaria por volta das sete e quinze da manhã fria, pede seu café com leite e seu pãozinho na chapa de todo dia: Manél, antes de adoçar um pouco mais o pingado, pega a colherinha , tira a nata do copo americano, introduz a nata à boca - não percebe o olhar de reprovação da moça bonita que se encontra do outro lado do balcão -, depois dá um gole no café , submerge o pão no copo que absorve o líquido igual a uma esponja, em seguida, abocanha o pão inclinando o corpo para frente, deixando as gotas caírem ao chão sujo da padaria, com o dorso do punho limpa ( ou espalha ) a margarina derretida no canto da boca, puxa aquele guardanapo quase inútil que o estabelecimento oferece e lembra-se confortavelmente que sua esposa odeia o seu jeito de tomar café.
Manél, chega ao trabalho, bate o cartão de ponto, põe o avental, senta-se em sua bancada e começa o seu trabalho que se resume em separar kits com materiais utilizados no processo de montagem de diferentes produtos que a empresa fabricava, aquela tarefa era um mantra em sua mente: “Kit 1, produtos A,B e D para linha 4, Kit 2, produtos B, D e G para linha 11, Kit 3 ...
Chega a hora do almoço, Manél lava as mãos se dirige ao pequeno restaurante próximo à sua empresa e já sabe que de terça-feira o local serve virado à paulista: arroz, tutu de feijão, couve refogada, bisteca, torresmo, lingüiça frita, ovo frito e banana à milanesa, nas terças Manél dispensava a marmita que trazia de casa. Após o almoço, o cafezinho e ao invés das moedas do troco, pede um doce de amendoim, ele senta-se à sombra de uma árvore , saboreia seu doce, palita os dentes , fica a pensar na vida até sentir a vontade pontual de usar o banheiro, depois escova os dentes e retorna à rotina de seus kits acompanhado pelo sono que não o abandonaria nas duas primeiras horas pós-almoço.
Manél, se lembrou que a empresa lhe devia algumas horas e decidiu que iria usa-las naquele dia, conversou com o encarregado que permitiu sua saída, Manél ficou contente em quebrar a rotina, na saída da empresa encontrou um conhecido que lhe ofereceu carona, ele aceitou e foi para casa com um ar de satisfação. O homem o deixou a poucos quarteirões de sua casa, e Manél se deparou com um ambulante que vendia biju e lembrou que sua esposa adorava biju, então comprou um pacote e continuou seu retorno assoviando com um sorriso de satisfação no rosto. Ao chegar em casa procurou não fazer barulho para surpreender sua esposa e quem sabe dar um sustinho, só de sacanagem. Manél destrancou cuidadosamente o portão e caminhou até a entrada da sala, ao entrar ouviu alguns gemidos, apreensivo se dirigiu ao quarto e ouviu outros barulhos,com as mãos tremendo abriu bruscamente a porta e conseguiu ver a bunda do homem que em desespero pulou a janela. Sua mulher com respiração ofegante tentava se enrolar ao lençol, estava suada, com os olhos arregalados, sua pele brilhava. Manél encarou a adultera, foi se aproximando calado, de rosto fechado, jogou os bijus no chão, arrancou as roupas, puxou o lençol, subiu por cima do corpo de sua mulher, separando com rispidez suas coxas e penetrando com facilidade a vagina que ainda estava úmida. Manél fez sexo como não fazia há tempos. Olhou para o lado e viu a embalagem rasgada do preservativo que estava jogada no chão, logo pensou: “Pelo menos a maldita usa preservativo”.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Outrora

Só lembranças restam de muitos que fizeram parte da minha vida
O contato virtual é um vestígio de tudo que representaram outrora
Tem sido em vão o esforço para ouvir suas vozes,
Tocar seus corpos,
Dividir as mesmas garrafas,
Relembrar as gafes que eram as nossas piadas favoritas

Hoje no presente não há fôlego ou interesse
De construir novos afetos ou inimigos
Não há desejo de popularizar os pensamentos
Externar opiniões, conhecimentos a visão do mundo e das artes

Hoje sou fruto maduro na árvore do meu passado
Carrego muitos “eus” embutidos
Alguns representados em fotografias precárias

Sou o mesmo para quem realmente me conhece ou conheceu
E estas pessoas resgatam algum “eu” hoje perdido
Na linha do tempo sou um espectro fragmentado com rastros que vão de 1977 até hoje
E lá atrás me vejo um garotinho sardento
De sandálias encardidas pela mistura de suor e poeira
Resultante de um longo dia de brincadeiras

Não lamento o tempo que passou
Ou das frustrações do que ou de quem não conquistei
A juventude ainda me acompanha
Mas estou ciente que o tempo não a congela

sexta-feira, 19 de março de 2010

Contra a adição

Pensamento me traz o que o tempo levou
Não é palpável, não é matéria
Hoje sinto falta de quem me prejudicou
Já houve afeto, não os quero por perto
As mãos pedem agora o que antes pesou
Devolva-me, eu agüento, recebo a contento

Com a palavra ouvida a resposta calou
O rosto corado, o silencio explicou
Com os elementos da vida se suicidou
Cotidiano pesado, ninguém ao seu lado

Suplicou por ajuda de quem maltratou
Todo seu orgulho a necessidade ofuscou
Com a mão estendida o seu corpo puxou
Ao voltar do penhasco esse o empurrou

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Um Final

Por um tempo fico sem escrever
E é estranho e incrível
As palavras de repente jorram de minha mente e de meu coração,
Como numa erupção,
Escorrem em letras
Igual a lama de uma encosta indevidamente ocupada
Não penso mais em desistir
Não consegui
Esta inquietação que pouco modifica o mundo
Esteve aqui
Agora está aí
Poucos se interessam
Alguns ás vezes esbarram
Não importa
Sou quase um anônimo
Nem preciso de um pseudônimo
Sinto-me aliviado
A escrita é um desabafo
Minhas idéias aqui não têm som, mas têm voz, têm vez
Ao invés de gritar uso a exclamação!!!
Mas vos peço
Não desistam de me ler
Prometo sempre tocar vossos olhos, compartilhar argumentos e provocar reações
Pode ser uma reflexão ou a vontade repentina de não querer ler até o final